Após a apresentação sobre o pacote das concessões, na segunda-feira, primeiro para deputados, depois para prefeitos e líderes regionais, o governador Eduardo Leite abriu o salão do Palácio Piratini para os repórteres.
Das 15 horas até por volta das 19h, a reportagem do A Hora ficou em frente à sede do governo gaúcho sem poder entrar. Depois, fomos para um espaço em separado, no térreo, sem poder entrar.
Quando chegou o momento das perguntas, algumas diretrizes: só poderia começar a gravar após o término da reunião. No famoso “quebra-queixo”, cena conhecida dos microfones de diversas empresas disputando espaço, a última pergunta deixou o governador incomodado.
Eu perguntei sobre os movimentos contrários aos pedágios, devido ao fato da manifestação com 60 pessoas em frente ao Piratini. Muitos diziam: “nenhuma concessão deu certo, por que essa daria?”
“Mas que afirmação absurda, para não dizer outra coisa”. Assim começou a fala do governador. Em resumo, defendeu como modelos assertivos o que foi feito na ERS-287 e na Caminhos da Serra. Relembrou que após as inundações, foi a iniciativa privada que conseguiu dar conta das obras emergenciais, e isso, por si só, já merece destaque, pois o poder público “jamais” conseguiria fazer na velocidade.
Em seguida, tentou interpretar a pergunta, com um histórico das concessões da década de 90 e da EGR como algo que não funcionou. Ficou claro o incômodo com a pergunta e com o que considera como “uso político” de uma discussão “técnica”.
Encerrou a entrevista de maneira áspera: “são pessoas que não tem nenhum interesse em resolver o problema e só querem fazer discurso político eleitoral. Mas se eu tivesse medo de crítica, não teria feito tudo que fiz, como reformar previdência de servidores, privatizar companhias públicas. Fui eleito e reeleito falando que faria essas concessões. Então, tem muita gente que invoca que fala em nome do povo, eu posso falar em nome do povo, fui eleito pelo povo que decidiu fazer as concessões.”
Espaço para o contraditório
O governador adota uma defesa irrestrita das concessões feitas pelo próprio governo e não poderia ser diferente. Porém, há o contraponto. Na área da ERS-287, a concessionária Sacyr tem sido alvo de críticas.
Em audiência pública, no mês de abril deste ano, em Venâncio Aires, a comunidade pediu mais transparência sobre o cronograma de obras, reclamou da demora no restauro dos trechos afetados pela enchente, e engarrafamentos devido ao sistema de pare e siga.
Na Serra, ocorre a primeira experiência com free flow no RS. No entanto, o arco é de cobrança única, diferente do pensado para o Vale do Taquari, em que a leitura será por trecho.
Inclusive, foi pedido mudanças no contrato, inclusive com novo aporte de recursos públicos para reforçar a infraestrutura contra eventos climáticos extremos. As obras de duplicação e melhorias também estão atrasadas, e há preocupação com o cumprimento dos prazos estabelecidos.
Histórico desabona
O Estado entra em uma quarta fase sobre concessões rodoviárias, e o Bloco 2 tem a oportunidade de ser a virada de chave. Os processos começaram com contratos frágeis, apenas para manutenção e serviços de socorro nas rodovias. Não se previu a necessidade de aumento na capacidade de fluxo e de melhorias estruturais para mais segurança tanto para quem transita entre cidades ou nos perímetros urbanos.
Imagino como será daqui a dez anos. Neste reporte, o que se espera é ter duplicações prontas na RSC-453 e na ERS-130. Assim, a proximidade entre os Vales traria desenvolvimento. Agora, é possível apostar nisso? Essa é a garantia que o futuro contrato precisa assegurar.