Quatro grandes inundações num período de nove meses. Uma delas, a maior da história da região. Entre os 28 bairros de Lajeado, o Conservas está entre os que mais sofreu com os efeitos das cheias do Rio Taquari e do Arroio Saraquá. A comunidade enfrenta prejuízos significativos em infraestrutura, habitação e também na economia local.
Um ano depois da enchente de maio – que chegou a 33,66 metros–, o bairro busca se reerguer. Se muitos moradores deixaram, de maneira forçada suas casas, outros resistiram. Reconstruíram e retomaram a vida em lares que ficaram inundados. Empreendedores também reabriram seus negócios às margens do rio.
Conforme levantamento da istração municipal de Lajeado, 42 famílias foram afetadas pela enchente no bairro Conservas. Isso totaliza 124 pessoas. À época, no ápice da inundação, 19 famílias foram acolhidas na capela da comunidade, enquanto 23 famílias receberam abrigo no pavilhão.
Um ano depois, 140 famílias do bairro aguardam uma residência. A espera é angustiante. Muitas famílias incluídas no programa de aluguel social voltam para as proximidades de onde residiam, sem conseguir alugar casas dentro do valor estipulado pelo governo.
Burocracia
Segundo o presidente da Associação de Moradores do Conservas, Claudiomir Couto da Silva, o Coutinho, a burocracia da Caixa Econômica Federal na seleção de imóveis pelo programa ‘Compra Assistida’ tem irritado os moradores. As famílias podem escolher casas de até R$ 200 mil, mas o processo emperra a concretização da compra.
“Tem gente disposta a adquirir imóveis de R$ 220 mil e pagar a diferença do próprio bolso, mas a Caixa não permite. É revoltante”, desabafa.

Diversas casas, como a de Coutinho, foram afetadas pela enchente
Por outro lado, das 439 famílias que solicitaram o Auxílio Reconstrução de R$ 5,1 mil, 431 foram contempladas, enquanto oito ainda aguardam o benefício do governo federal.
Enchente levou casa e oficina
Elenara Lima mora na rua João Avelino Maria com o marido, Tiago Martini, e os quatro filhos, o mais novo, um bebê de 9 meses. A enchente levou embora a casa e a oficina da família. Hoje, eles conseguiram reerguer a oficina com telhas de zinco e vivem, de forma improvisada, em uma pequena moradia de pedra. A antiga foi embargada.

Família de Elenara espera uma casa definitiva
Durante a tragédia, a família foi acolhida no ginásio do bairro. Grávida na época, Elenara precisou ir a Porto Alegre, onde deu à luz na casa da mãe. Ela, Tiago e os filhos permaneceram na capital por quatro meses, até decidirem voltar ao Conservas para refazer a vida. Geladeira, armário, pia, tudo é improvisado ou foi achado na rua.
A casa improvisada não é adequada para o bebê, que já teve pneumonia. A prefeitura cedeu algumas tábuas e madeiras para preencher as janelas. “A gente tapou o que deu, para poder entrar pra dentro”, conta Elenara.
Agora, esperam uma moradia definitiva do governo federal. Estão na lista do programa ‘Compra Assistida’, mas não sabem quando serão chamados. “Pouca coisa mudou em um ano”, reclama ela, enquanto aguarda dias melhores.
Segundo a istração municipal, a família de Elenara é acompanhada pela assistente social Nicela Wendt e está inserida no Programa PAIF Infantil (Programa de Atenção Integral à Família), recebendo acompanhamento social e ações voltadas à melhoria da qualidade de vida, com ênfase na primeira infância.
Áreas de lazer
Nos planos do município de Lajeado, está a possibilidade de reocupar as chamadas zonas de arrasto em “verdadeiros oásis urbanos”. A proposta inclui a criação de parques, praças e áreas comuns que, além de serem capazes de ar alagamentos, servirão como locais de lazer, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população.
Em parceria com a Univates, um estudo será realizado para entender os impactos dos rios nessas regiões, garantindo que as decisões tomadas sejam sustentáveis e eficazes. No entanto, ainda não há prazo para que esses projetos sejam executados.
“Para evitar prejuízos significativos, os projetos para essas áreas públicas devem incluir equipamentos adaptáveis às cheias, utilizando materiais que possam submergir sem danos”, destaca o secretário de Planejamento, Urbanismo e Mobilidade, Alex Schmitt.
Casas no bairro
Conservas é um dos 10 bairros de Lajeado que receberão novas moradias, dentro dos projetos habitacionais estabelecidos pelos governos estadual, federal e da iniciativa privada, que projetam a construção de quase 400 casas.
Ao todo, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, serão 11 casas construídas no Conservas, por meio de recursos federais. O programa Minha Casa, Minha Vida – Calamidades, contempla 128 novas habitações, e alcança também os bairros Conventos, Jardim do Cedro e Morro 25.
Obras após as cheias
- A istração investiu R$ 459.819,63 no calçamento das ruas João Avelino Maria, Paulino Geraldo da Rosa e Maria Oraides da Rocha;
- Reconstrução da Avenida Beira Rio no trecho entre a empresa Sucatas Wiebeling, no bairro Morro 25, até a divisa com Cruzeiro do Sul;
- Executou melhorias na Ponto do Arroio Saraquá, telas de proteção para pedestres, iluminação e construção de calçada;
- A Avenida Beira Rio recebeu novas paradas de ônibus.

Ponte do Saraquá ou por melhorias no começo deste ano
Encontro na praça
- A istração municipal intensificou os serviços no bairro, após a tragédia, reconstruindo ruas, pontes e aprimorando a iluminação;
- A praça se tornou local aprazível. Mineia da Silva mora no Conservas há 20 anos. Na praça restaurada após a enchente, toma chimarrão com as amigas. A brita recolocada, novos brinquedos e a quadra reformada, atraem as moradoras. As crianças têm um espaço para brincar.
- “Mas ainda falta a construção de um ginásio, que possa acolher as pessoas afetadas pelas enchentes”, reforça.