Após anos enfrentando dificuldades e limitações para garantir o direito à educação das crianças indígenas, a Aldeia Kaingang Foxá, localizada no bairro Jardim do Cedro, em Lajeado, vive um momento de esperança. O projeto para construção de uma nova escola indígena na comunidade está em fase de licitação pelo governo estadual e contempla uma estrutura mais ampla e adequada para atender a demanda crescente de estudantes.
A luta da comunidade começou em 2007, quando uma antiga casa de moradia foi adaptada e ampliada pelos próprios moradores para funcionar como espaço escolar. Desde então, as condições têm sido precárias, com salas improvisadas e espaço insuficiente diante do aumento constante no número de crianças. Atualmente, cerca de 45 alunos, do 1º ao 5º ano, estudam na Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Gaten, que oferece aulas bilíngue, de português e da língua Caingangue, mantendo viva a cultura da etnia.
“Estamos à base da pressão com o governo para que tenhamos nosso direito à educação assegurado. De 2007 para cá, ninguém deu um olhar adequado e merecido para nossa comunidade. Agora, recebemos a notícia de que uma estrutura maior e mais confortável está nos planos do estado. A expectativa é grande”, afirma Vergilino Nascimento, vice-cacique da aldeia.
A intenção do novo espaço é oferecer atendimento para também alunos do ensino médio, um sonho antigo da comunidade. Atualmente, os estudantes mais velhos seguem os estudos na Escola Municipal Dom Pedro I, fora da comunidade.
Segundo Vergilino, a busca por essa ampliação começou em 2009. “Quero ver essas crianças com um prédio novo, com ensino de qualidade, algo padrão como as outras escolas. Somos índios, mas seres humanos como qualquer outro”, defende.
A aldeia é formada por 58 famílias, a maioria oriunda de Nonoai, no norte do RS. Vergilino vive há mais de 25 anos na cidade e destaca que as crianças têm liberdade e convivem de forma saudável com a natureza e os costumes locais.

Futura unidade será construída nas imediações da aldeia
Educação como prioridade
A professora Elaine Nascimento, que atua há 10 anos na escola, relembra as dificuldades do início. “Era uma casinha de madeira, toda esburacada. Precisávamos ter muito jogo de cintura para ensinar. A gente se dedica com o que tem, mas é triste perceber que o estado e o município muitas vezes não nos veem como deveriam”, desabafa.
Demandas da aldeia
Além da educação, a comunidade também enfrenta desafios em infraestrutura urbana. As ruas da aldeia são precárias, em contraste com bairros vizinhos bem estruturados. “Vivemos perto de um bairro rico e queremos uma estrutura padrão como as demais localidades”, diz Vergilino. Na área da saúde, o serviço é oferecido em um espaço provisório dentro da comunidade.
Em fase de licitação
A coordenadora da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Greicy Weschenfelder, confirmou que o projeto faz parte de um “plano estadual de construção de escolas indígenas modulares e está em fase de licitação”. Vergilino reforça que a área para a obra já está reservada, sendo que não foi permitida nenhuma construção de residência no local. “Já demarcamos o espaço e não vamos permitir habitação na área.”
Mesmo com os obstáculos, a esperança por dias melhores fortalece a resistência da comunidade. “Se aguentamos até aqui, vamos aguentar mais um pouco para receber essa nova estrutura. Agradecemos com muita alegria se esse sonho, enfim, se concretizar”, conclui Vergilino.